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Wheeeee na Rua da Prata, futuros milionários e alcatrão misterioso. Newsletter 44.

Olá, Lisboetas Possíveis,

Temos cinco histórias para vos contar. Vêm recheadas de links — alguns crocantes, alguns cristalizados, esperamos que gostem de os saborear.


1 A fuga fracassada

Quando me viu, não tinha para onde fugir.

Na Baixa-Chiado, como toda a gente sabe, não há árvores nem arbustos. Carlos Moedas teve mesmo que enfrentar este encontro iminente.

A Assembleia aprovou a petição pela Baixa Ciclável, disse eu.
Só faço o que vocês me pedem. Estamos a pensar em fechar a Rua da Prata, respondeu ele.

Vendo pelo preço ao qual comprei.

Tive este encontro inesperado há mais de meio ano. Não tenho provas além desta anedota, mas sei que obrigámos os deputados e o vereador da mobilidade Filipe Anacoreta a horas de discussões e audições que deram em votação positiva sobre a nossa proposta. Noutro dia, pela primeira vez na vida, pedalei segura e sem medo na Rua da Prata gritando wheeeeeeee!!!!! Recomendo.

👉 Há formas mais previsíveis de nos encontrar. Podemos marcar um café se querem ajudar com o vosso talento.

2 Onde conhecer o futuro milionário

Não, não procurem os futuros milionários na Startup Lisboa. A Rua da Prata, vejam ponto número um, agora já é pedonal e ciclável, com um elétrico na faixa exclusiva.

Conta a mitologia urbana que não ter carros a passar é desastroso para o negócio. Portanto, esqueçam lá os founders, a inteligência artificial e os unicórnios.

Olhem em vez disso para a rua paralela. A Rua da Madalena. Agora que recebe todo o trânsito da Rua da Prata, deve ser a rua de Lisboa que mais fatura. Comecem já a fazer amizade com a gente que lá trabalha. Cheia de estacionamento à superfície, sem esplanadas, e com as toneladas de metal fumegante a apitar, é um reclamo natural para os hipsters locais e os nómadas digitais.

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3 O alcatrão misterioso

Porque é que alcatroaram a Rua da Prata? Se é para ficar pedonal, porque não nivelar os passeios e escolher outro pavimento?

Porque os “residentes”.

Os “residentes” – no vocabulário dos presidentes das juntas que aspiram a ser reeleitos – são uma etnia especial. Têm carro, não querem ouvir dos transportes públicos, gozam com as bicicletas e são netos daqueles avós que devem ser levados para o hospital todos os dias. Estacionam à porta e à borla. Alguns chegam a defender que os fenícios vieram a Lisboa de carro. Servem nos debates políticos como um argumento final e irrefutável.

Não façam erros de confusão: uma freguesa que não tenha carro não pode ser considerada residente.

Há um pequeno problema com os “residentes”. Ninguém sabe exatamente quantos deles haverá em cada freguesia no dia das eleições. O perigo do “residente” viajar e voltar com as ideias progressistas anda por aí. Pode dar-lhe na telha seguir os ativistas nas redes. Pode ficar atropelado e começar a ter visões urbanísticas esquisitas.

A política dos partidos do centro é a arte de prometer sol na eira e chuva no nabal. Com o Moedas a receber aplausos pela Rua da Prata, o presidente da junta da Santa Maria Maior, Miguel Coelho, PS, sentiu-se arder em popólismo, defendendo os “residentes” da Rua da Madalena que precisam de carro para sobreviver. Ao mesmo tempo tentou defender a Zona Zero – já! - comodamente esquecendo-se do proverbial “com calma”.

Sendo os dois lados peritos em realpolitik bairrista, pedonalizaram a Rua da Prata de tal forma que dê para despedonalizar. Adorávamos poder apoiar o Miguel Coelho na criação da Baixa pedonal – já que lançar uma petição para não deixar que o PS despedonalize a Rua da Prata seria antes trágico que caricato.


4 Saudades dos deputados

Ana Matias, ciclista e defensora dos oceanos, tentou ganhar cinco mil euros no orçamento participativo da freguesia da Penha de França. A ideia era garantir o primeiro estacionamento coberto e seguro no bairro. Não ganhámos, mas ficámos na mesma surpreendidos que deixassem passar a proposta apesar de esta incluir a palavra “bicicleta” – algo que nos desqualificou logo nos preliminares do orçamento da freguesia da Misericórdia. É por isso que continuamos com a petição, já assinada por 322 de vocês, que vamos apresentar na Assembleia Municipal.

Queremos que os deputados não tenham razão para ter saudades nossas. A petição Pedonalizar Rua e a Travessa dos Mastros já tem mais de 600 assinaturas, com moradores e comerciantes apaixonados pela ideia. Aquelas duas vezes quando fechámos as ruas aos carros durante o dia inteiro ajudou à comunidade local acreditar que sofrer no meio do trânsito não é obrigatório. Hoje Mastros, amanhã a vossa.

Também adorávamos conhecer o São Bento. Continuamos a recolher as assinaturas na petição pelos 30km/h para levá-la ao Parlamento. Se ainda acham que é uma tarefa irreal, em Amesterdão já é assim em quase todas as ruas a partir deste mês. Sejam micro-influencers no vosso círculo e chateiem com carinho:)

5 Publicidade nativa

Não recebemos dinheiro da cidade ou do governo, e portanto não somos obrigados a ser fofis com os representantes do poder. Criticamos sem autocensura, e louvamos as coisas bem feitas também. Tudo graças ao vosso apoio.

Queremos ajudar a fechar a rua dos Mastros de forma regular até que haja uma solução. Queremos continuar a promover as petições. Queremos gravar conversas com as pessoas que dedicam a vida a melhorar Lisboa: já viram a nossa entrevista com a Beatriz Dias do Bloco? Queremos experimentar com os novos formatos – conhecem a Dona Irrita? Afinal, queremos convencer os lisboetas de que é possível desalcatroar esta cidade-paraíso.

O que mais nos ajuda é o vosso apoio regular, porque assim sabemos que todo este trabalho não é em vão e devemos continuar. E porque dá felicidade ficar na fila do CTT, com as t-shirts Cravo Bravo embrulhadas, para vos mandar em agradecimento.

Alguém achava mesmo que não ia ser possível gritar wheeeeee na Rua da Prata?

Ksenia

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