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Como fecho a minha rua aos carros? Capítulo 2. Newsletter 42.

Tivemos na junta. E mais treze horas na rua a recolher assinaturas. A sensação – como comer bacalhau ainda não demolhado.


👉 Este texto tem umas 800 palavras, são só cinco minutos :) Vão ver muitos links: este mês lançámos vários sketches satíricos na tentativa de explicar melhor o óbvio que para muitos ainda não o é. O link direito para partilhar este texto é este. Descaradamente queremos enganchar-vos, portanto vejam já esta revelação urbanística da Dona IrRita.



Pedonalizar Mastros
Um dos nossos projetos é humanizar a Rua e a Travessa dos Mastros – aquele cantinho mágico na Misericórdia cheio de cores, ao lado da Rua da Silva, conhecida como Rua Verde. As mães que lá moram gritam que é graças ao milagre que os filhos ainda estão vivos. Os comerciantes estão completamente enlouquecidos com o incessante trânsito que afasta pessoas. Nem é a questão de querer esplanadas, ou estar abertos até às tantas da noite. Querem ter uma rua agradável, com espaço comum sem carros, para as pessoas poderem lá passar e eventualmente ficar.


👉 Só para relembrar

Arrancámos com este projeto no dia 8 de julho, com o evento Com Gente Dentro. Naquela altura, em cooperação com os moradores, comerciantes e o partido Volt, tivemos a rua para nós das 10h até às 23h (podem copiar e melhorar o nosso processo para a vossa rua, guião aqui).


Foi nesta altura que fomos à assembleia da Junta de Misericórdia para convidar os deputados ao evento, e a presidente Carla Madeira (PS) notoriamente declarou que “pedonalizar é penalizar”. Tanto o PS, quanto o PSD literalmente riram-se da nossa proposta, já que, resumidamente, “Lisboa sempre foi assim”, realçando que a nossa opinião não conta porque moramos em Lisboa há menos tempo (deu origem a este maravilhoso sketch) e fazendo uma indireta sobre alguns de nós não terem nascido em Portugal (nasceu mais um sketch).


Na junta quem defende a nossa proposta é o Bloco, foram os únicos eleitos a passar pelas ruas no dia e gravar uns vídeos a favor da pedonalização.


Quem não esteve connosco, pode ver como foi ouvindo a nossa conversa Como Mudar o Sistema com Joana Tadeu, conhecida como Ambientalista Imperfeita, Ana Matias da Sciaena e Sara F. Costa, poeta e sinóloga. (Se agora mesmo não conseguem, adicionem no “ver depois” no youtube). É uma meia-hora de maior concentração de conselhos práticos.



Teatro de greendade
Repetimos a abertura da Rua e Travessa dos Mastros no 22 de setembro, dia europeu, supostamente, sem carros. Não nos apetecia participar no teatro de greendade, com um programa meio hipster, meio frases feitas, que não propunha mudanças além do dia. Assim que nesta data lançámos a Petição Pedonalizar Mastros (assinaram?) e vos convidámos para a Lisbonlândia, onde tudo era ao contrário: dizíamos que estacionar o carro à porta e converter negócios em garagens é o que era bom.


🤟 Curiosidade

Desta vez com o Volt decidimos testar ainda mais os limites práticos do direito à manifestação. Avisámos sobre o nosso evento em nome dos moradores e comerciantes, sem a participação do partido, e tudo funcionou na mesma. No caso de qualquer comichão pessoal com os partidos, já sabem que podem fazer só vocês. Força!



Intimidade inesperada
Fazer a campanha na rua empurra para uma intimidade inesperada com a humanidade.

Ouvimos uma mãe a defender o trânsito na Rua dos Mastros, porque poupava-lhe uns minutos em levar as crianças para escola – justamente quando a filha estava a dar mais uma volta de bicicleta no meio da rua, radiante. (Deu neste sketch)

Um senhor resolveu fingir que era GNR para poder passar. Exigia que lhe mostrássemos a autorização. As nossas explicações de que os cidadãos, pela Constituição Portuguesa, não precisam de autorização para fazer uma manifestação, que basta um aviso, não encaixavam nos ouvidos dele. Depois de termos chamado a polícia, com a mesma energia de antes, o senhor teve uma mudança brusca na atitude, começou a distribuir apertos de mão a todos. Milagrosamente nos olhos dele passámos a ter a sacrossanta autorização.

Houve buzinadelas épicas e “mas os carros têm que passar”. Mas vocês já sabem: temos que olhar além do barulho. 554 pessoas já assinaram a petição. O nosso próximo passo é alavancar essas vozes na Assembleia Municipal de Lisboa. E vocês a iniciarem esta mudança na vossa rua sem esperar pelas eleições, bênção do partido no poder local, e outros obstáculos imeginários. Esta não é uma crise, é uma catástrofe urbanística e climática que estamos a viver.


T-shirts épicas
Agimos graças às vossas doações. Agradecemos Pedro e Diana Mendonça, Carla, Pedro Fonseca, Rui Ascensão, Katerina Chirkova, Daniel Moreira, Lorenzo Rojo, Miguel Macedo, Silke Jellen, e Luís Sarmento por nos terem apoiado este mês. Sim, precisamos do vosso apoio e gostávamos de oferecer a t-shirt Cravo Bravo a quem faça doações regulares. Agradecemos!

Pedonalizar é possível,

Ksenia

P.S.: 🚲 Viva a ciclovia de Berna! 🚲