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Levar a democracia a passear. Newsletter 45.

Olá, Lisboetas Possíveis.

Há 195 países no mundo.

Vinte e quatro são democracias plenas, e já tivemos neste clube exclusivo. Só que pelo caminho deixámos de participar na política. No meio da governação intermitente, acabámos na lista dos quarenta e oito democracias defeituosas.

Ok, bem a saber. Só que vocês não subscreveram esta newsletter para receber queixumes académicos, certo? Não estamos cá para proferirmos mais um exaltado “pois” perante estes conceitos abstratos. O que tem piada é levar a democracia a passear.

Assim que literalmente fizemos isso: fomos arejar a democracia na Rua e Travessa dos Mastros. Usámos o direito constitucional de manifestação para devolver o espaço público a nós próprios. Duas vezes. Uma em junho, outra em setembro.

Antes do primeiro evento fomos à assembleia da junta da Misericórdia para convidar a presidente e os deputados. Ainda não tínhamos fotos giras para mostrar. Sem o logo acabado, a agenda fechada, ou a petição escrita. Era a prova do conceito. Um sonho wip. Conclusão: riram-se de nós em voz alta, remarcando que com esses sotaques do Brasil e do leste não éramos bem-vindos na casa da democracia.

Antes do segundo evento fomos à assembleia da junta da Misericórdia mais uma vez para convidar a presidente e os deputados. Já com as fotos e os vídeos de pessoas felizes: moradores, vizinhos, turistas, comerciantes. Já com a queixa interna do Bloco feita sobre o tratamento xenófobo que a assembleia nos fez. Já com muitas novas amizades reforçadas, com uma riqueza triplicada de sotaques na sala. Conclusão: pedonalizar e penalizar. Na travessa há garagem, portanto todos têm que aceitar que nunca vai ser pedonalizada. Na rua passa o autocarro, e não importa se pode passar por uma rua paralela e muito mais ampla – os fregueses têm carros e estes devem fluir.

Ontem fomos à assembleia pela terceira vez. Levámos as vossas 656 assinaturas. Falámos da Susana, moradora na Rua dos Mastros, cujo filho já foi quase atropelado pelo taxista em excesso de velocidade. Falámos da quantidade de vocês apaixonadas pelo sonho que já duas vezes sonhámos. Convidámos a presidente e os deputados a experimentarem viver numa democracia plena.

Conclusão: afinal aquela garagem na travessa ninguém sabe se é usada, talvez dava para pedonalizar, aquela rua é com a câmara, nós aqui só podemos dar opinião.

Interessante. A retórica mudou e muito.

Somos dos poucos privilegiados neste planeta cheio de ditaduras e torturas. Podemos abrir ruas e organizar lá tertúlias poéticas e concertos acústicos sem ir para prisão porque a presidente ou os deputados discordam. Não temos que entrar em favores íntimos dos políticos locais para fazer as coisas acontecer. Com argumentos, com assinaturas, defendendo a nossa dignidade podemos mudar a atitude e o trato.

O próximo passo é levar esta petição (assinaram?) à Assembleia Municipal, que seria mais uma oportunidade para ver a verdadeira cor política dos partidos. Será que o PS votará contra a pedonalização? Será que podemos obrigar os nossos eleitos a serem coerentes e terem ouvidos para quem não quer ir de carro para todo o lado?

Teremos essas respostas em breve. Entretanto ficam poucos dias antes do Natal, e vários de vocês já nos pediram as t-shirts Cravo Bravo como prendas. Há um de vocês que pediu logo 10, para enviarmos aos políticos em nome dele! Estamos disponíveis para entregar as t-shirts a vocês nos próximos dias – com a bicicleta todos sabemos que se conseguem milagres. Se a vossa prenda de Natal é tornar Lisboa possível, vejam aqui.

A democracia plena é possível com vocês,

Ksenia

(Sempre podem re-encaminhar este email ou partilhar o link direto)

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